Romulo Felippe

Autor e personagem: colecionadores apaixonados por espadas medievais

Romulo e o rei Jared, personagem do Monge Guerreiro, têm algo em comum…

O que o autor Romulo Felippe e o rei Jared – um dos personagens de Monge Guerreiro (Editora Cavaleiro Negro) – têm em comum? Acertou quem respondeu que ambos colecionam espadas. A paixão do escritor por lâminas medievais, que o leva a aumentar sua coleção sempre que roda pelos castelos e vilarejos do Velho Continente, serviu de inspiração para a criação desse personagem incomum em seu livro.

Senhor do fictício Reino dos Caucasianos, localizado na fronteira entre a Grécia e a Bulgária, Jared carrega a alcunha de Colecionador de Espadas. Sua coleção, entretanto, é de deixar qualquer amante dessas armas com o queixo caído: algumas milhares de espadas devidamente organizadas no Salão de Armas do Castelo de Cáucaso.

Leia abaixo uma parte do capítulo 32, quando Jared apresenta suas “crianças” para o monge Bastian Neville:

***

Um grande corredor, com janelas com vistas para a escuridão do altiplano, os conduz até o portentoso salão de armas do Castelo Cáucaso. O rei Jared está acompanhado do general Rumen e de sentinelas armados com lanças. O monge caminha atento às nuances da grande e lendária fortaleza. A noite fria é confortada diante a imensa lareira acesa centrada no salão.

– Aqui estamos – revela o velho monarca – diante da minha estimada coleção de lâminas!

O salão possui um formato longitudinal, com teto recôncavo feito de tijolos expostos e cerca de duzentos passos de extensão. Pareadas de ambos os lados estão incontáveis espadas. Provavelmente milhares – imagina Bastian Neville. Nem nas grandes cruzadas que participou viu tantas armas de aço reunidas em um único local. De vários formatos, culturas e modelos; longas, curtas, retas, curvas, com um ou dois gumes.

– Essas espadas que nos recebem – aponta o rei Jared enquanto caminha no corredor circundado de lâminas penduradas nas paredes laterais – não passam de espólios das grandes batalhas travadas pelo exército caucasiano. E, como pode ver, em batalhas devidamente vencidas. Depois de forjado e usado em batalhas, acredito que o aço possa aprisionar a alma daquele que o empunhou.

– É uma coleção impressionante, majestade. Certamente poderia armar um grande exército com essas espadas – realça Bastian Neville. – Mas e quanto a minha companheira de viagem, a guerreira mongol? Temo por ela estar sozinha no calabouço.

– Não há o que temer. Ninguém fará mal algum à pequena mulher – interrompe o rei. Seus passos, enfim, chegam ao final do salão de armas. Uma grande parede de tijolos resguarda, no entorno do estandarte do reino, aquelas que parecem ser as mais destacadas espadas da coleção.

– Finalmente, monge Bastian. Deixe-me apresentar as minhas crianças – afirma o velho apontando para algumas dezenas de espadas como quem apresenta a um estranho os amados membros da família. – São as maiores preciosidades da minha coleção. Essa aqui, por exemplo, é a fantástica espada conhecida como Montante – e esforça-se para tirar da parede uma lâmina com dois metros de comprimento e pesando mais de dez quilos. – Essa é a grande Highland Claymore, uma espada de duas mãos que travou muitas batalhas nas montanhas escocesas. A seu favor está o tamanho e o peso, altamente destrutivos, embora peque na velocidade de contragolpe. Eu mal consigo segurá-la!

– A quem pertenceu essa pesada espada, meu senhor? – pergunta o monge.

– Ela pertenceu a um grande líder do Clã dos Macfarlane, chamado Ramsay. Ele, como os antigos donos das demais espadas destacadas nesta parede, lutou em nossa arena. Todos eles lutaram por ouro ou por suas vidas. Alguns convidados, outros sequestrados e outros mais, como você, encontrados à beira do nosso caminho. Essas lâminas aqui, meu caro, são troféus conquistados por meu campeão na arena de Cáucaso. Todos eles desafiaram meu guerreiro e tiveram suas vidas devidamente ceifadas pelo aço frio do representante do Reino dos Caucasianos.

Os olhos de Bastian exaltam uma luz diferente. É impossível não brilharem com tamanha história que seus ouvidos pacientemente escutam. Já presenciara monarcas insanos o suficiente para lançarem príncipes do alto das torres na vastidão de suas loucuras, mas um rei amante de espadas conquistadas em arena é uma novidade. A lenda de Jared, o Colecionar de Espadas, serpenteia até os confins de Jerusalém – é verdade. Mas não se ouvia nada mais além, nem mesmo pela boca dos grandes contadores de estórias.

– Vejo aqui espadas de várias etnias, rei Jared – replica o cavaleiro. – De ferreiros romanos, gregos, sarracenos, nórdicos, persas e até mesmo uma katana ligeiramente curva.

O rei Jared o aplaude de forma efusiva.

– Muito bom, monge. Muito bom mesmo. Respeito um homem que conhece as boas lâminas – reitera o velho, seguido de um sorriso de desprezo desferido pelo general Rumen. – Sou um solitário nessa arte. Nem mesmo meu único filho, o príncipe Branimir, aprecia a cultura de cada uma dessas espadas.

– Por que está apresentando a um pobre monge sua preciosa coleção, alteza?

– Será você realmente um monge bizantino? É a primeira questão. Deve ter percebido que falta à minha coleção uma espada da Ordem do Templo. Mas o destino sorriu para mim e trouxe uma até os confins do meu reino. Aliás, duas pérolas, porque a espada mongol terá alguma serventia na minha coleção.

O rei Jared segue para os aposentos reais acompanhado do general Rumen, que ordena aos guardas que levem o prisioneiro ao calabouço. O frio da noite já penetra as paredes revestidas de pedras e tijolos. Bastian caminha de volta cercado por milhares de espadas que ladeiam o imenso salão de armas. E sente em seu coração como se ouvisse o grito de morte de cada homem ou mulher que um dia empunharam essas lâminas.

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