Especialistas mostram a importância da leitura para a saúde
por Jessica Castelo
Revista Viver!
São inúmeros os estudos que apontam para os benefícios da leitura na vida das pessoas. E em tempos pandêmicos nada mais promissor do que combater o estresse, a fadiga e a ansiedade, entre outros males, mergulhando nas páginas de um bom livro. Para se ter uma ideia, cerca de seis minutos diários dedicados à leitura resultam na redução de até 68% do estresse nosso de cada dia…
Segundo o cirurgião José Maria Sá, um apaixonado por livros e ávido leitor, desbravar as páginas de uma obra impressa é uma válvula de escape na vida do ser humano. “A leitura é um antídoto para a maioria dos nossos problemas diários. Os livros nos abrem caminhos para a felicidade. Inclusive tem a capacidade de acelerar a cura de inúmeros pacientes”, afirma o médico.
São muitas as pesquisas científicas que atestam a afirmação do doutor José Maria Sá. Em uma delas, realizada pela Universidade Emory (dos EUA) atesta que o cérebro é afetado – positivamente – como se de fato vivêssemos os eventos narrados em uma obra literária. Quem lê diariamente, por meia hora que seja, tem vinte e cinco vezes menos chances de desenvolver doenças como Alzheimer e Demência.
Para o escritor Romulo Felippe, jornalista que também atua na área de saúde há duas décadas, o grande desafio para lermos diariamente (e obtermos os benefícios desse “exercício mental”) é dissociarmos algum tempo da tecnologia: “ler exige silêncio e concentração. E hoje a tecnologia, com as redes sociais e afins, nos tira esses momentos saudáveis diante as páginas de um livro. Então, quando dedicar alguns minutos do seu dia à leitura, esqueça celular e tevê. Será bem mais prazeroso e benéfico”.
Uma pesquisa da Stanford confirmou o quão bem a literatura faz para o cérebro. Um grupo foi convidado a ler capítulos do romance Mansfield, de Jane Austen, dentro de uma máquina de ressonância magnética. Resultado: o estudo comprovou que a leitura é um exercício valioso para o cérebro. Quando se lê, o sangue flui para várias áreas ligadas à concentração e treina o cérebro para atividades que exigem compreensão.
‘Basta virar uma página para que mil janelas sejam abertas’
Que os benefícios da leitura são inúmeros, ninguém duvida. Mas como incentivar as pessoas a empunhar um livro ao invés de celulares e redes sociais? Segundo o escritor Romulo Felippe a resposta está no fortalecimento de uma nova geração de leitores, através de palestras escolares e conscientização dos pais. “Nos dias atuais vejo as redes sociais, jogos eletrônicos e streamings como um retardo ao avanço intelectual das nossas crianças e adolescentes. Nada contra a tecnologia, mas é necessário que ensinemos aos jovens o poder de uma boa obra literária. Além de benéfico para a saúde mental, o livro potencializa a nossa inteligência”, analisa. Autor dos livros “Monge Guerreiro”, “Reino dos Morcegos” e “O Farol e a Tempestade” (Brasil), além de “Il Guerriero Templare” (Itália) e “Warrior Monk” (EUA), e com quatro manuscritos inéditos, o jornalista capixaba crê no futuro dos livros impressos: “Menos de 10% dos brasileiros leem com alguma frequência. Isso é desalentador? Muito pelo contrário. Vejo potencial de crescimento onde enxergam pobreza literária. Confio que os livros impressos estarão sempre acessíveis às nossas mãos. Basta virar uma página para que mil janelas sejam abertas diante seus olhos”.
‘LER NOS DÁ 20 ANOS A MAIS DE EXPERIÊNCIA…’
Autor de romances policiais, o otorrinolaringologista Dan Mendonça acredita que livros são alguns dos segredos para a longevidade. “Um livro soma duas décadas no mínimo em termos de experiência. Ao dedicar-se à leitura, você absorve conhecimento e descobre formas diferentes de ver o mundo”, salienta.
Doutor Dan lançou, nos últimos anos, os livros “Mistério em Sampa” e “Outros Mistérios” e tem mais três inéditos em andamento. Filho do famoso jornalista Uchôa de Mendonça, o médico descobriu a literatura pelas mãos do pai, ainda criança: “Ele me apresentou aos mundos de Alexandre Dumas e Júlio Verne, entre outros. Descobri ali as boas janelas da vida”.
Incentivar aos filhos é essencial, o médico acredita. “Minha filha, a arquiteta Dani Mendonça, leu 113 livros variados no ano passado. Um exemplo de amor à literatura. O que sei é que os livros têm um propósito: se a leitura é técnica, ensina; se é ficção, leva o leitor a conhecer novos mundos. Os benefícios para a saúde são imensos, com certeza”, finaliza.
GERA O BEM-ESTAR
Um constante apoiador da biblioteca da Santa Casa de Cachoeiro, no Centro de Estudos ‘Edson Moreira Rebelo’, o cirurgião geral José Maria Sá enxerga os livros como “medicamentos” eficazes para uma série de problemas. “A leitura favorece a cura e gera o bem-estar. É um verdadeiro antiestresse”, afirma o médico, que dedica horas do seu dia às páginas impressas.
Doutor José Maria conta que os livros foram importantíssimos, anos atrás, quando ficou de molho na cama por cerca de um mês por conta de uma inflamação na coluna: “uns 30 dias sem poder sair da cama e vejo o quanto os livros foram importantes no meu processo de recuperação. É o que costumo dizer: cultura não é ler demais, mas saber se orientar no conjunto de sua biblioteca e se conectar dentro de um livro”.
Ele acredita que é essencial que os adultos incentivem as crianças à leitura. “O caminho é o exemplo. Um pai que lê motiva o filho a fazer o mesmo. É como um espelho”, diz. O cirurgião diz que, logo após a pandemia, vai implementar um projeto novo na Santa Casa: um carrinho contendo livros que vai circular entre as enfermarias e levar alegria aos pacientes. “O livro é uma das possibilidades de felicidade, de ser feliz naquele momento de imersão em suas páginas”, conclui.
Ler é uma TERAPIA
Médico e escritor, doutor Sérgio Damião conta que a leitura proporciona momentos de menor estresse
Um dos cronistas mais conhecidos da terra de Rubem Braga e membro da Academia Cachoeirense de Letras, o nefrologista Sérgio Damião tem o hábito diário de carregar um livro em sua rotina médica. Autor de dois livros e centenas de crônicas, ele conta que a leitura abranda a correria médica.
“Sempre que possível levo um livro para a clínica, para assim criar um momento só meu. Certamente será o momento de menor estresse na minha rotina. Ler é uma terapia”, salienta o escritor. E, de fato, a leitura relaxa a rotina corrida – além de, segundo pesquisas, melhorar foco, memória, concentração e induzir a uma boa noite de sono.
Doutor Sérgio Damião olha para a História para explicar o papel do livro em nossas vidas: “a leitura está fincada desde os primórdios da humanidade, quando nas cavernas já existiam as pinturas rupestres, por exemplo. Eram os livros de outrora. Ferramentas de comunicação que interviam até na espiritualidade humana. Depois descobrimos os pergaminhos, a impressão através de Gutenberg até os dias de hoje. A humanidade tem uma relação íntima com os livros”, analisa.
O nefrologista atenta, ainda, para o momento atual da pandemia. “Todo ser humano que lê evolui de alguma forma. Isso porque o livro nos permite essa evolução intelectual. É uma relação natural que temos com a leitura. E a pandemia ao menos nos deu mais tempo para nos dedicarmos aos livros. É uma forma de nos acalmarmos, um verdadeiro exercício para o cérebro e para a vida”, conclui o médico e escritor.
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