Jornal Fato entrevista Romulo Felippe sobre biografia do político em atividade mais longevo do país
O calhamaço de 600 páginas ‘O Enigma Ferraço’, obra do escritor e biógrafo Romulo Felippe, teve forte repercussão quando de seu lançamento, em maio deste ano. Membro da secular Academia Espírito-santense de Letras e do centenário Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, com obras lançadas no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos, Romulo pesquisou à fundo a vida do político cachoeirense. Para ele, a obra ascende Theodorico Ferraço ao seu devido lugar como artífice da política nacional na luta pela reabertura democrática do país. Confira a entrevista exclusiva.
Wagner Santos, editor do jornal Fato
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Fato: O quão desafiador foi biografar Theodorico Ferraço?
Romulo Felippe: Um biógrafo é movido sobretudo pela paixão e pela riqueza dos personagens. Por se tratar de uma figura histórica, cuja história sabidamente segue em movimento — escrevendo novos e dourados capítulos —, Theodorico de Assis Ferraço exigiu uma rigorosa investigação biográfica. Suas mais de seis décadas na política o transformam em um espécime raro. O trabalho exigiu o melhor do jornalista, do escritor, do entrevistador, do historiador… enfim, cavei fundo para descobrir suas raízes até os dias de hoje. Uma biografia altamente desafiadora.
O que mais o surpreendeu nesse processo de apuração e escrita?
Não reputo surpresa, mas regozijo ao alçar o nome de Ferraço em seu devido lugar no panteão da política nacional. Mergulhando fundo em sua vida pregressa, acessei documentos e reportagens de Norte a Sul do país destacando sua destacada atuação para a reabertura democrática do Brasil. Mas, confesso, que algo me surpreendeu sobremaneira…
…e que surpresa foi essa?
A amizade muito próxima de Ferraço e do presidente João Baptista Figueiredo. O cachoeirense circulava com desenvoltura pelo palácio ou nos voos presidenciais, entre outros. No entanto, esse vínculo não o impediu de, por vezes, criticar e denunciar mazelas do governo do Regime Militar. E o fez mais do que a própria oposição, o que decorreu em fraturas nesse relacionamento. Era já naqueles tempos um político inquieto, articulado, midiático e que lutava pelo seu país. Inclusive, foi um dos últimos a defender o Congresso quando da ameaça de fechamento, em episódio épico.
Segundo seu livro, Figueiredo vetou o nome de Ferraço para governador.
Sim, de fato. Uma eleição interna entre os correligionários capixabas do partido dos militares apontou o nome de Theodorico Ferraço para a sucessão do Palácio Anchieta. Venceria com certa facilidade o sufrágio estadual, mas o Presidente da República barrou seu nome da disputa. Isso por conta das críticas ferracistas da tribuna do Congresso. O livro revela uma conversa inédita entre os dois a respeito desse conturbado episódio.
Qual o segredo da longevidade de Theodorico de Assis Ferraço?
É uma pergunta interessante, daí o título do livro de 600 páginas (O Enigma Ferraço). A resposta está no final da biografia, mas é preciso salientar que o protagonista da nossa obra biográfica rompeu as décadas sem alterar seu estilo inteligente de fazer política. Na eleição do ano passado o povo o abraçou como um ‘pai’, aquele que, certamente, dividiu a história de Cachoeiro entre o antes e o depois dele. Mas, mais do que isso, Ferraço é uma figura icônica de âmbito nacional. Artífice da democracia ao discursar, para 1,5 milhão de pessoas na Candelária, como único parlamentar governista, denunciando e gritando pela volta do voto. É motivo de orgulho sermos contemporâneos de Ferraço, que simboliza a última leva de políticos históricos do país.
E, como biógrafo, qual futuro você vislumbra para ele?
Creio que, com o governador disputando o Senado e Ricardo Ferraço assumindo o governo, além de concorrer ao Palácio Anchieta, testemunharemos um fato histórico perante nossos olhos: possivelmente, pela primeira vez em tempos republicanos, teremos um pai prefeito e um filho governador em mandatos simultâneos na História do Espírito Santo. E isso, decerto, exigirá uma atualização da biografia de Theodorico Ferraço — o que deve ocorrer em abril ou maio de 2026. Trata-se, como disse antes, de um rico personagem histórico que segue escrevendo novos e prósperos capítulos.
