Em entrevista, escritor revela que “a Academia de Letras é a última trincheira da literatura”
Thiago Sobrinho
Jornal A Tribuna
Dias depois de ter sido eleito como o novo membro da Academia Espírito-Santense de Letras (AEL), o escritor Romulo Felippe não contém a alegria. Aos 46 anos, prestes a completar 47 no fim do mês, ele será o sucessor do poeta Sérgio Blank na cadeira de número 9 da Academia.
Para ele, a eleição, que aconteceu de forma virtual na última semana, transmite um recado para a comunidade literária capixaba. “A Academia está sempre buscando ampliar os seus horizontes”, destaca o cachoeirense, que vive em Vitória.
E, desta vez, as atenções dos confrades e confreiras se voltaram para o universo fantástico criado pelo autor de “Monge Guerreiro”. Essa foi a primeira obra do cachoeirense. Ela foi publicada no Brasil em 2016. Posteriormente, ganhou traduções e acabou saindo na Europa e nos Estados Unidos.
“A minha eleição é uma forma de ampliar um leque de escrita dentro da nossa sagrada casa de livros. Temos historiadores, romancistas e diversos poetas. Acredito que, pela primeira vez, esteja entrando um autor de fantasia medieval”, complementa Romulo.
Segundo o escritor dos romances “O Farol e a Tempestade” e “Reino dos Morcegos”, se tornar um imortal sempre foi um desejo.
“Era um sonho que eu trazia desde a infância em Cachoeiro de Itapemirim. Eu morava a poucos metros da Casa dos Braga. Já olhava os acadêmicos locais e me inspirava”, relembra ele.
E mesmo que, de acordo com o estatuto da Academia Espírito-santense de Letras, a posse do novo imortal deva acontecer no prazo de 180 dias, o escritor já começou a delinear as diferentes maneiras que poderá contribuir.
“O meu plano é trabalhar com palestras em escolas. Acredito que é essencial que instiguemos crianças e adolescentes a lerem e a escreverem”.
Porém, enquanto a pandemia durar, o escritor capixaba vai estudar formas virtuais de como poderá ter contato com os jovens leitores e escritores do Estado.
“Saindo do pico pandêmico, as minhas primeiras ações serão voltadas para essa classe de crianças e adolescentes. Essa é a minha missão, mas também receberei outras da Academia. Essa é a missão de um acadêmico: estar disponível sempre que possível”, ressalta.
“A Academia é a última trincheira da literatura”
AT2 Como recebeu a notícia de que tinha sido eleito para a a Academia Espírito-santense de Letras?
Romulo Felippe Com muita felicidade, muito júbilo. É o que chamamos de felicidade plena. Sei que é uma das maiores honrarias em vida de todo escriba. É um reconhecimento do seu trabalho. Eu me senti jubiloso, feliz. Foi um momento marcante da minha vida.
É o primeiro membro da história da Academia eleito de forma remota. O que achou desse ineditismo?
Infelizmente, a gente vive dias trevosos. Um longo período de trevas por conta da pandemia. E é esperado que muitas decisões sejam tomadas virtualmente. A gente exalta a dedicação dos acadêmicos de levar as eleições. Apesar de eles amarem se encontrar, se sacrificaram e chegaram a um veredicto.
Vai ocupar a cadeira que pertencia ao poeta Sérgio Blank (1964-2020).
A perda dele deixa um hiato grande na poesia e literatura capixaba. Ele é considerado o poeta- mor da nossa geração. A escrita do Sérgio era surreal. O que posso fazer, além de agradecer e exaltar a carreira dele, é honrar a cadeira 9.
Como vê o desafio de ocupar uma cadeira na Academia de Letras?
Enxergo as academias como instituições que transcendem as questões físicas. Elas são patrimônios em um aspecto mais amplo. E a AEL é a última trincheira da literatura. É a última base de resistência. Todas as dificuldades que as livrarias passam, que autores enfrentam, todos os riscos, até ameaça governamental para taxar o livro, ali é a última área de resistência.
Vai usar a internet para instigar a leitura?
Eu, como Romulo, autor, com certeza vou continuar as minhas postagens incentivando a leitura e a escrita, dando dicas, incentivando outros autores e jovens talentos. Há muitos talentos que ainda estão escondidos.
Imaginava que seria publicado na Europa e nos EUA?
O escritor tem que ter crença no seu trabalho. Batalhei muito para ter esse reconhecimento lá fora. Mas, verdade seja dita, o autor, não só o capixaba, o brasileiro, vive um momento terrível. Viemos de uma crise econômica e, na sequência, essa pandemia. As editoras e livrarias estão sofrendo muito.
É mais valorizado lá fora?
Em termos de vendagem, sim. Mas o reconhecimento no Brasil é maior.
Tem obras prontas que pretende lançar para o público que acompanha seu trabalho?
Neste um ano de pandemia, eu passei por duas infecções de Covid e escrevi quatro livros inéditos. Pretendo lançar dois deles ainda neste ano.
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http://tribunaonline.com.br/novo-desafio-apos-fantasias-medievais