Connect with us

Resenhas

Autores lusitanos analisam o “Monge” sob a ótica europeia

Publicado

às

“Monge Guerreiro”, do escritor brasileiro Romulo Felippe, foi lido e avaliado por dois autores portugueses: R. C. Vicente (“O Ressurgir dos Titãs”) e Nuno Ferreira (“A Espada que Sangra”)

Nuno Ferreira:

“Fugindo aos estéreotipos de romance histórico ou fantasia medieval, Monge Guerreiro é um livro passado na turbulenta primeira metade do século XIII. Recheado de liberdades históricas e fantásticas, foi produzido pelas mãos do autor estreante Romulo Felippe, amante de História e jornalista de profissão.

As 420 páginas do romance são divididas em 10 partes, todas elas adornadas pelos trabalhos gráficos do também brasileiro JD Burton, enquanto a arte de capa pertence ao artista espanhol A. J. Manzanedo. À frente de sete mil guerreiros e dotado de uma ambição desmedida, Slatan Mondragone é um líder guerreiro destemido e invencível. Nasceu após a morte da mãe, razão pela qual alega ter nascido da morte, e foi criado e encaminhado na sua senda de poder pelo enigmático Nuray, um velho conhecedor de magias negras.

Carregado de um poder bélico inigualável, Mondragone – também chamado de Rei Negro – cerca a icónica Fortaleza Ilhada, que pertenceu por mais de mil anos à linhagem Jaroslav. Sophyr Jaroslav, o rei de Orhan, na Bulgária, é assim sitiado por um inimigo bem instruído e armado. Confiante na inexpugnabilidade do seu reduto, é surpreendido quando corpos ceifados pela peste são arremessados por catapultas para o interior das suas muralhas. Em pouco tempo, vê o seu pequeno filho morrer, e tanto ele como a esposa, a chamada Rainha Corvo, têm um destino horrível às mãos do odioso Mondragone.

Enquanto o Rei Negro tomava Orhan como quartel-general, o rei Luís IX de França, alheio a tal infortúnio, destaca um monge miguelino a transportar a lendária Lança do Destino, a sagrada lança que perfurou o flanco de Jesus Cristo na Cruz, para a França. Também os Cavaleiros Templários, oriundos da Terra Santa, transportariam consigo um objecto sagrado: a Coroa de Espinhos. A Fortaleza Ilhada fora o local predeterminado para o encontro entre monge e cavaleiros, para que daí conduzissem ambos os artefactos em segurança para o coração da França.

Christopher Blanche é o grão-mestre da Ordem do Templo. Guerreiro lendário, um dos melhores do seu tempo, teve um papel fundamental nas Cruzadas e travou-se com o temível Nuray, conhecendo de perto os segredos negros da sua magia. Ele sabe melhor que ninguém que o seu percurso estará cheio de obstáculos, mas está disposto a tudo para chegar a França com a Coroa de Espinhos. Nem que tenha de se travar com os hunos de Odoacro, o Lobo, descendente de Átila, e ver a grande maioria dos seus homens tombar.

O monge miguelino destacado para portar a Lança do Destino é Bastian Neville. Trata-se de um homem marcado pelo tempo e pela vida, que pertenceu em tempos à Ordem do Templo, à qual virara costas. Convocado para desempenhar um papel fundamental na História da Fé Cristã pelo próprio rei da França, e convicto de que tal poderá mitigar os sentimentos de culpa que o corroem por dentro, Bastian lança-se numa demanda heróica, que, mais cedo ou mais tarde, viria a cobrar o seu preço.

Bastian começara a guerrear era ainda um menino, tendo participado na lendária Cruzada das Crianças, na qual um grande número de crianças marchara para o Sul de Itália com o objetivo de libertar a Terra Santa. Segundo alguns relatos, todos haviam sido mortos ou escravizados.

Na Grécia, Bastian Neville tornou-se um monge, recluso no Mosteiro Suspenso devoto a São Miguel Arcanjo, mas as marcas do seu corpo não escondem um passado de dor e violência. Após lhe ser atribuída a tarefa sagrada de portar a Lança por um dos monges, o Mosteiro Suspenso é alvo de um ataque por parte do Duque de Monos, um senhor vizinho, que muito embora acabe morto por Bastian, assassina muitos dos religiosos do Mosteiro.

Depois de encontrar um belo cavalo negro com uma deficiência na fronte, a quem chamou Noitelonga, Bastian dirige-se ao vilarejo de Athos, em busca do guerreiro mongol que o guiaria até à Fortaleza Ilhada. Consigo porta uma espada templária, lembrete dos seus tempos na Ordem, chamada Viacrucis.

Na pequena povoação grega, Bastian percebe que o filho do Duque de Monos está no seu encalço, como também percebe que o guia mongol que lhe fora prometido trata-se de uma bela mulher chamada Setseg, nada mais, nada menos que a neta de Genghis Khan. Enfrentando nobres cobiçosos, guerreiros incríveis e reis lendários, Bastian e Setseg avançam com a lendária Lança do Destino para a Bulgária, onde o tenebroso Rei Negro espera reunir os artefactos sagrados para dominar o mundo.

Veredito: um antigo Templário a montar um unicórnio? Um dragão a sobrevoar as maiores cidades da Itália medieval? Fantasia e História ‘face to face’ num relato histórico de fundações reais? A ideia tinha tudo para ser desastrosa, mas o autor brasileiro Romulo Felippe mostrou-me que não.

Foi com um grande sentimento de honra que recebi o convite do Romulo, um autor tão apreciado no Brasil, para ler e comentar o seu livro. Posso dizer que foi uma leitura proveitosa, fluída e, diria até, compulsiva. Monge Guerreiro venceu o meu sono por algumas noites e ganhou o meu apreço.

Romulo Felippe revelou-se talentoso em múltiplos aspetos. A escrita dele é empolgante, o vocabulário rico e algumas cenas foram tão brilhantemente descritas, que me fizeram senti-las em primeira mão. Essa é uma das grandes qualidades do Romulo.

Desde o primeiro momento do livro, sentimo-nos sugados para dentro da ação do livro. Monge Guerreiro não é uma fantasia que tenta aproximar-se à realidade histórica. Ainda que muitos personagens e até reinos sejam fictícios, sentimo-lo como um romance histórico credível, com traços fantásticos.

As cenas de mortes às mãos do Rei Negro foram deliciosamente macabras, as descrições de batalha, fantásticas, e as inclusões de fantasia – dragões e unicórnios, sim – conseguiram, surpreendentemente, parecer verosímeis. A descrição de Romulo Felippe é rica sem perder tempo em minúcias; por vezes, a sua escrita pareceu-me demasiado apressada, mas nunca deixou de ser versada. No fundo, senti a paixão de Romulo ao escrever e fui contagiado por ela durante a leitura.

Romulo Felippe, um nome a não esquecer.”

 

R. C. Vicente:

“São poucos os autores de fantasia que satisfazem a minha fome de leitora. Procuro perfeccionismo, procuro uma conexão química com o texto sempre que leio, procuro um mundo onde me consiga imaginar e, de preferência, personagens que me convençam e seduzam. Foi isso que aconteceu quando li ‘Monge Guerreiro’ de Romulo Felippe.

Gosto de livros que me desafiam, gosto de livros com qualidade, mas, acima de tudo, gosto de livros que me ensinam. Quando li ‘Monge Guerreiro’ pude aprender certas coisas, pude-me envolver na história, pude apreciar o livro mesmo que em versão e-book [algo que me é bastante difícil].

A obra estava em português brasileiro, algo que para mim, muitas vezes, é complicado de se ler, no entanto, desta vez, não foi o caso. É um livro de fácil leitura, com um português que eu considero acessível a qualquer leitor lusófono, e com uma narrativa que nos envolve, que nos prende e arrasta, e que nos rouba o fôlego. E é um livro que eu terei todo o gosto em guardar junto a nomes como George R.R. Martin.

É uma grande obra. É uma história inteligente. É uma fantasia medieval escrita em português ao nível de qualquer estrangeira. É um livro que eu recomendo. Ao autor Romulo Felippe o meu mais sincero agradecimento e os meus parabéns. Foi uma honra poder ler este livro fantástico, que me prendeu do início ao fim. Uma obra que recomendo a todos os leitores e uma das melhores que já li. Brasil, tem orgulho neste teu grande escritor do Universo Fantástico”.