“No mundo em que vivemos, cheio de incertezas, e repleto de valores questionáveis, Romulo nos brinda com uma obra que nos relembra a importância da virtude de acreditarmos em algo”
Leonardo Reis
Escritor / Rio de Janeiro
“O Monge, o Guerreiro e a Fantasia (inter)Nacional
Hoje estou aqui para falar do jornalista e escritor Romulo Felippe e de seu livro, Monge Guerreiro, que se tornou uma das mais comentadas obras de fantasia nacional da nova geração de talentos de nossa literatura.
E para esse escritor que vos escreve, que teve o prazer de conhecer esse fantástico autor em um encontro promovido pelo Acervo do Leitor com o apoio da LeYa Brasil e que terminou recentemente de ler essa já renomada obra, é fácil entender por que esse livro tem feito tanto sucesso por aqui e já começa a conquistar o mundo. Sim, o mundo, pois além da sua publicação já contratada por uma das principais editoras da Itália, ela também se encontra em negociação com a maior editora de língua espanhola do planeta, além de ter a versão em inglês dando seus primeiros passos em busca do mercado americano.
No mundo em que vivemos, cheio de incertezas, e repleto de valores questionáveis, Romulo nos brinda com uma obra que nos relembra a importância da virtude de acreditarmos em algo e lutarmos por isso com todas as nossas forças, independente de nos sentirmos capazes ou não dessa tarefa, não importando o quão árdua possa ser essa jornada. É o que encontramos quando nos deparamos com Bastian Neville, um guerreiro atormentado pelo seu passado, um homem amargurado, que odeia sua principal habilidade: a de matar em nome de Deus.
Após desertar depois de muitos anos como um cavaleiro da Ordem dos Templários, na qual ainda menino iniciou sua vida de matança, na vil e obscura Cruzada das Crianças, ele busca alguma paz em um pequeno mosteiro. Lá enquanto aguarda o fim de sua vida, corroído ao mesmo tempo pela deserção e pelas lembranças das inúmeras vidas que ceifou, certo de que sua alma não tem mais salvação, ele será escolhido para uma missão sagrada que colocará o destino do mundo cristão em suas mãos. O monge precisará se tornar o guerreiro implacável uma última uma vez.
Mas o que faz essa obra ser tão aclamada pelo público e pela crítica? São fãs fervorosos e críticos literários postando merecidos e efusivos elogios de maneira tão incansável. Diego Ribeiro (um dos críticos de fantasia mais respeitados da atualidade), por exemplo, colocou o Monge Guerreiro em seu “Top 10” nesse ano.
O que então transformou esse livro em um fenômeno emergente entre os novos talentos da literatura fantástica nacional?
Seria a capa cuidadosamente elaborada por um dos mais conceituados ilustradores europeus? Seria a edição caprichada, entremeada por incríveis ilustrações na abertura de cada um dos seus capítulos? Certamente esse é um atraente convite, mas esse lindíssimo livro é muito mais que isso, pois como nas pessoas, o que importa é seu interior, seu conteúdo, pois a fórmula do sucesso exige muito mais do que beleza.
Primeiro você precisa ter um personagem que faça o leitor se apaixonar e querer segui-lo.
Bastian é esse herói, cheio de conflitos e dúvidas, mas cheio de fé e determinação, humano e, de certa forma, sobre-humano ao mesmo tempo. Opondo-se a ele, um inimigo a altura como Slatan Mondragone, poderoso, cruel, e desumano. Depois você envolve os protagonistas com vários personagens interessantes, alguns deles figuras históricas.
E no embasamento histórico temos mais um ponto forte da obra, com um mundo e uma época ricamente pesquisados pelo autor e jornalista para propor um universo raro, talvez inédito na fantasia épica. Ao “mundo real” dos cavaleiros templários são adicionados elementos clássicos da fantasia medieval com uma certa mitologia cristã com a Coroa de Espinhos e Lança do Destino, reforçando esse sentimento de originalidade. O modo como a fantasia é introduzida na obra também merece destaque começando com pequenas insinuações até chegar com força total na alta fantasia, em uma experiência que vale a pena ser vivida na imersão de suas bem trabalhadas páginas.
Adicione nesse rico cenário a jornada do herói contada em uma narrativa ágil e contagiante, permeada por empolgantes batalhas e cenas de ação, que se desenrolam, mesmo sob uma aura de violência e sexo contextualizados, em uma trama sem sofisticações desnecessárias, descortinando com traços de nostalgia dos velhos tempos de heroísmo, uma certa pureza, quase inocente, da eterna batalha do bem contra o mal, em uma história dramática de coragem e amor, de dor e conflito, de fé e redenção.
E por fim, ao mesmo tempo em que falamos do passado precisamos lembrar que nesses novos tempos, não se espera mais que escritores sejam criaturas excêntricas, reclusas atrás de um computador, mas sim personalidades com força e carisma para encantar seu público. Romulo Felippe, me lembrando a seu próprio modo a presença sempre marcante do icônico Affonso Solano do O Espadachim de Carvão, certamente entrega o “pacote completo”, como um autor tão envolvente quanto suas criações.